quarta-feira, 15 de abril de 2009

Superqualificadas, quando eles vão embora, elas ficam

Por Luiza Dalmazo, São Paulo
03/11/2008

Com a intenção de atender a demandas sofisticadas dentro das companhias, presidentes e diretores estão mais exigentes na hora de contratar suas secretárias. Vale lembrar que no Brasil, 99% dos mais de 2,1 milhões de profissionais que exercem a função são mulheres. Para conseguir ocupar o posto hoje, elas precisam acumular qualificações como fluência em dois ou três idiomas, conhecimentos de cerimonial, recursos humanos e análise de documentos. São tantas exigências, que a média de idade delas subiu, de cinco anos para cá, ficando entre 40 e 50 anos de idade.



"Com a informatização, as secretárias deixaram um pouco de lado a parte operacional e passaram a ser cobradas por uma atuação mais estratégia", afirma a consultora de recursos humanos da Catho, Gláucia Santos. É por isso que tanto a faixa de idade quanto a remuneração subiram. Segundo ela, os executivos procuram profissionais entre 35 e 40 anos. "Isso valoriza quem está no perfil, pois a maior parte da oferta é de pessoas entre 20 e 27 anos", diz.

Há cinco anos, as profissionais mais procuradas tinham entre 20 e 25 anos. "Hoje a média de idade demandada subiu, porque a exigência sobre a formação é maior, inclusive algumas empresas pedem uma pós-graduação", afirma a presidente da Federação Nacional das Secretárias, Maria Bernadete Lieuthier.

Como também passaram a se envolver com novas tarefas - de comunicação interna, análise de documentos, elaboração de apresentações e outras - a média salarial acompanhou o movimento e subiu. Era de R$ 1,69 mil em 2003 e hoje é de R$ 2,25 mil para uma secretária executiva e de R$ 3,8 mil para secretária trilingüe, contra R$ 2,86 mil há cinco anos, de acordo com a Catho.

Por ter hoje tantas responsabilidades, elas passaram a desempenhar papéis equivalentes aos dos gerentes administrativas. Não são apenas o "braço direito" dos executivos. Magaly Caruso, secretária-executiva na IBM Brasil, é um exemplo desse novo perfil. Formada em psicologia, pedagogia, turismo e secretariado executivo, hoje ela cursa pós-graduação em gestão da comunicação em empresas. Além disso, fala inglês, espanhol, italiano e alemão. Está há 34 anos na mesma companhia.

Entre as responsabilidades de Magaly está o atendimento de quatro executivos - um responsável pela área de software para a América Latina, um diretor de relações governamentais, um diretor de filiais de bancos oficiais e clientes públicos no Brasil e uma diretora jurídica que, curiosamente, fica em São Paulo, bem longe de Magaly, que como os demais mora em Brasília. "Nós decidimos aproveitar toda a tecnologia de comunicação que existe para trabalharmos juntas e tem funcionado bem, apesar de só nos vermos três vezes por ano", conta. Elas trabalham juntas há um ano e meio e avaliam que o trabalho conjunto está indo muito bem.

Mas atender aos quatro executivos não é tudo. Magaly é o contato do departamento de recursos humanos na filial da companhia na capital federal, responsável por eventos, pela construção do ambiente organizacional e coordenação das atividades externas em embaixadas e órgãos de governo. "Diferentemente de outros locais, aqui em Brasília a parte de relacionamento é muito importante e por isso eu coordeno também as agendas externas", explica.

Para chegar ao posto, Magaly trabalhou em Recife (PE) nos departamentos de almoxarifado, recursos humanos, e também como secretária desde 1999, trajetória que considera importante para a construção da visão global da empresa que tem hoje. Há três anos ela está em Brasília, onde também é presidente do Comitê de Secretárias Executivas da Câmara Americana de Comércio (Amcham), que reúne 700 secretárias da cidade.

Por terem o perfil mais ligado à empresa do que a um executivo, tornou-se comum os presidentes e diretores passarem pela empresa e, ao contrário de as levarem junto quando mudam de emprego, como era frequente, elas permanecem. A assessora executiva da presidência do Fleury Medicina e Saúde, Denise Zaninelli, por exemplo, está há 14 anos na empresa e já atendeu a quatro presidentes diferentes. Assim como Cláudia Gargitter, que foi para o Pão de Açúcar em janeiro de 2006, como secretária do recém-chegado Cássio Casseb e continuou com o novo presidente, Claudio Galeazzi, que assumiu em dezembro de 2007. Eles vão, elas ficam.


Fonte: www.valoronline.com.br
Novembro/2008

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